Sobre sensação de abandono
Esse é um tema que me acompanha a muito tempo, tanto que não lembro desde quando.
Antes mesmo de receber um diagnóstico, eu sentia medo de ser abandonada. Acho que na minha infância, as coisas funcionavam de uma forma diferente, do ponto de vista que não dava pra se perceber que aquilo era medo de abandono em si, mas era claro que se eu não fizesse o que devia ser feito, eu recebia algum tipo de reclamação, não só eu, mas minha irmã também.
Nossa infância foi sempre cheia de disciplina e eu não posso responder por ela, mas eu sentia falta da minha mãe comigo, sendo carinhosa, e meu pai não demonstrava afeto nenhum. Quando cresci, voltei esse desejo de afeto para meus namorados, e aí o medo de ser abandonada era mais "nítido", mas não entendido como esse termo pela minha parte. Eu tinha medo de ser rejeitada, porque a rejeição causa grandes riscos de abandono e eu já tinha aquele sentimento de ter sido "abandonada" pelos meus pais, mesmo com eles em casa, então não queria ser abandonada de novo por outra pessoa que eu gostava.
Infelizmente, por conta desse medo de rejeição, eu acabei sufocando algumas pessoas, sendo ciumenta, ou até mesmo desistindo de algum relacionamento antes mesmo de tentar. Isso é característico do border também, e vim ter conhecimento depois do meu diagnóstico. Quando houve o diagnóstico, tudo ficou mais claro pra mim, talvez seja até injusto eu falar sobre sensação de abandono porque eu sou mais intensa, mais sensível, mais sentimental, tenho tato excessivo para emoções. Mas já que me impus esse desafio de escrever, aqui estou eu...
A sensação de abandono é terrível. O peito aperta, é como se uma boa parte da vida se passasse na minha mente e eu ouço uma voz interna dizendo "mais uma vez isso" ou "vai acontecer de novo...". Dói, porque querendo ou não a pessoa deposita na outra grande confiança, constrói planos e sonha com aquela pessoa inclusa nos seus objetivos e a sensação de que aquela pessoa pode te abandonar, é meio que um abalo sísmico, assim de leve mesmo. O seu corpo estremece, a mente também, e a minha em especial fica pensando 1001 coisas ao mesmo tempo, sem parar nem pra eu conseguir respirar e ocasionalmente já me falta fôlego. Eu perco o ar, e começo a ficar tonta. A pressão cai e eu preciso me encostar em algo que me dê segurança pro estrago não ser maior (pelo menos fisicamente).
A última vez que tive essa sensação uma pessoa me amparou, mas eu mal conseguia ouvir o que ela falava, eu tava em estado de choque. Do nada eu comecei a chorar e senti meu mundo desmoronando, mas ao mesmo tempo percebi que era tudo dentro de mim, que do lado de fora a vida continua e que várias vidas são impactadas pela minha. Isso me fez pensar que o medo de abandono pode me abalar, mas não vai mudar muito as coisas senão somente à mim, então não tem como outras pessoas entenderem o que eu sinto, só os profissionais que me atendem.
Visto isso, o que eu faço de melhor é fingir que tá tudo bem e quando tiver tempo, sentar, respirar e pensar que o medo de abandono é algo que não pode tomar conta de mim, porque só me deixa fraca, só abala minha imunidade, me desestabiliza e é meio que um mecanismo de defesa, porque já aconteceu comigo, já me fragilizou na infância, na adolescência, mas se eu conseguir ter consciência e força, isso não põe mais em risco minha sanidade mental.
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