A memória mais feliz da minha infância

Falar sobre infância é ter uma dicotomia de sentimentos. Cursando licenciatura em geografia, pude ter contato com disciplinas que não bacharelado eu jamais teria e uma dessas disciplinas envolvia psicologia.
Na disciplina de psicologia da aprendizagem, a gente aprende que as crianças se desenvolvem melhor a partir da interação delas com o ambiente, independente de ser o ambiente voltado para a natureza ou o ambiente em questão de práticas de rotina, estudo e o contato com a sociedade. 
Minha infância foi uma das melhores épocas da minha vida. E quando alguém fala de memória, da melhor memória de quando eu era criança, acho que posso resumir tudo que aconteceu de bom à uma palavra: Inocência.
Sei que parece ser algo bem generalizado, pois a inocência pode estar presente até hoje na vida das pessoas que já são adultas, que estão chegando a sua melhor idade ou até mesmo no caos que é a vida de um adolescente. Porém, nada se compara a inocência que uma criança carrega consigo. Quando eu era criança as coisas eram mais simples, mesmo que eu não soubesse quanto valia o real, o cruzado ou o cruzeiro. E já que estou falando de dinheiro, vou contar um acontecimento que tem tudo a ver com esse tema. A palavra da vez é:  Lasanha.
Nos meus anos de infância minha mãe nos ensinava o que hoje chamam na escola de "educação financeira". Eu e minha irmã tínhamos cada uma um cofrinho, e as moedas que ganhávamos da nossa mãe, do nosso pai, dos nossos tios ou até as que encontraram mas pelo meio do caminho, eram guardadas lá. Não tínhamos liberdade o suficiente para opinar sobre que presentes queríamos ganhar, se poderíamos comprar sorvete naquela semana, se nossas vontades por doces seriam atendidas devido a limitações financeiras. Mas tínhamos a nossa inocência, onde achávamos que para tudo teria um jeito e para a nossa vontade naquela semana, o dinheiro do cofrinho serviria. A gente só comia lasanha lá em casa quando era alguma data especial, como o Natal, ou quando vinha alguma visita especial almoçar num domingo. Contudo, minha vontade por lasanha não queria esperar tantos meses até o Natal...
Me arrisquei a pedir pra minha mãe que ela fizesse uma lasanha, mas ela alegara que não tinha motivos especiais para se fazer uma lasanha naquele fim de semana. Maaaas, porém, contudo, entretanto, todavia, ela disse que eu podia usar o dinheiro do meu cofrinho pra comprar o material pra fazer a lasanha que eu queria! Não imaginava que meu esforço de ajudar em casa, o carinho dos parentes e o hábito de economizar poderiam realizar minha vontade gritante de comer lasanha, e lá fui contar o dinheiro pra comprar as coisas da lasanha. 
Não prolongando tanto a história, eu nem me recordo se eu tinha o suficiente no cofre, tendo em vista que o salário mínimo na época não chegava a R$500 reais e eu só tinha uns R$5 no meu cofrinho. Mas para a felicidade minha e da nação, eu consegui comer lasanha naquele fim de semana. Ok, eu só tinha 8 anos eu acho, mas foi ali que eu percebi que qualquer esforço que eu fizesse poderia me trazer bons resultados, mesmo que fosse só comida por enquanto (e de uma forma limitada, porque lasanha pra gente era um acontecimento extraordinário). 
Se hoje eu cheguei onde estou, moro onde moro e  tenho minhas conquistas, foi porque a menina Joice acreditou que um cofrinho cheio de moedas podia deixar o dia dela mais gostoso com uma lasanha feita com a ajuda das economias dela...
Mesmo que eu não seja mais aquela criança inocente, ainda tenho lasanha como uma das minhas comidas preferidas.

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