O meu primeiro amor

Sabe aquele filme "Meu primeiro amor"? Aquele que o Macaulay Culkin morr* de picadas de abelha e parte o coração de qualquer ser humano que tiver assistindo? Pois é, acho que duas das mensagens que o filme tem a intenção de passar são:
1. O amor é genuíno, isso é explícito quando acontece entre duas crianças e;
2. Em algum momento, de uma forma ou de outra, o amor pode deixar de existir.

O meu primeiro amor não teve um fim trágico, mas aconteceu da forma mais inocente e espontânea que poderia acontecer. Ele era meu coleguinha de escola, o conheci na "alfabetização"... 
Como uma criança cheia de incentivos em casa, eu era bem empolgada na escola, principalmente pra aprender a ler e a escrever. Disso não tenho o que reclamar, meus pais me disciplinaram pra ter autonomia e sucesso nos estudos, independente de qual série eu estivesse fazendo. Mas confesso que só tive um bom desenvolvimento com amizades no ensino fundamental I, que foi a melhor parte da minha infância. Um fato curioso nisso tudo, é que eu sempre tive mais facilidade de fazer amizades com meninos e já adulta, descobri que isso derivou-se de uma possível falta de "irmão" (sim, eu sempre quis ter um irmão, o que não anula o afeto que tenho pela minha irmã). E foi lá que eu conheci o Bê. A gente sempre sentava perto um do outro e conversava sobre coisas de criança: brinquedos, as matérias da escola, estudos sociais, histórias em quadrinhos e o que tinha na lancheira, mas só nos víamos na escola. Saindo da alfabetização, entramos na 1ª série e foi quando tivemos mais contato ainda.
Nós tínhamos a mesma idade, nossas famílias se conheciam, morávamos em bairros vizinhos e tudo era tão familiar, que a gente fazia praticamente tudo juntos: leituras, tarefas, passávamos o recreio conversando e ele levava os brinquedos dele pra gente ver. Lembro que um dia ele levou um papagaio que repetia as coisas que a gente falava e era tão engraçado, eu gostei tanto, que ele me emprestou esse papagaio pra eu passar o fim de semana. Em casa, a gente sempre aprendeu sobre zelar as coisas, nossas e dos outros e antes do fim de semana acabar, o papagaio parou de falar... Lembro que fiquei apavorada, achei que tinha quebrado o brinquedo do Bê, mas minha mãe percebeu que era só a pilha que tinha acabado, de tanto a gente "falar" pro papagaio repetir kkk 
Lembro que vez ou outra o Bê viajava pra Fortaleza, e voltava com alguma coisa diferente pra mostrar pra gente na escola. Uma das vezes que ele viajou, me trouxe 2 histórias em quadrinhos, as guardo até hoje na minha gaveta secreta do guarda-roupa, na minha cidade natal: um é da Pequena Sereia, outro é da Sailor Moon (um episódio de quando ela conhece o Tuxedo Mask). A Sailor Moon foi um dos primeiros contatos que tive com a cultura japonesa, isso foi tão marcante pra mim que tenho a Lua tatuada no meu braço :) 
Era tudo muito genuíno, essa nossa "relação" embora não sendo de namorados (porque né, éramos crianças de 7/8 anos), era algo forte, que a gente conversava sobre tudo. Não tinha maldade ou malícia, éramos seres humanos carinhosos um com o outro, até que um acontecimento foi crucial pra isso tudo ser abalado...
Minha mãe era coordenadora pedagógica na escola que a gente estudava e como já citei anteriormente, eu e minha irmã tínhamos uma educação de certa forma rígida em casa. Minha mãe gostava de salientar que "crianças não namoram" e até hoje concordo com isso. Depois dos quadrinhos, o Bê chegou a me dar cartões com frases carinhosas e em um dia qualquer da semana, quando eu menos esperava, fui abordada por um amigo dele que estudava na sala vizinha a nossa, perguntando "tu que é a namorada do Bê, né?". Eu fiquei em choque. Naquele momento o que eu mais temia era que aquela história toda se espalhasse pela escola e minha mãe brigasse comigo, e sem titubear eu o respindi falando um firme "não". Foi aí que eu tive um dos primeiros atos de impulsivdade da minha vida: peguei os 2 cartões que o Bê tinha me dado, e os devolvi, dizendo que não podia mais ficar com eles. Sem mais explicações.
Aquilo simbolicamente acabou com toda a amizade e contato que tínhamos um com o outro. 
No ano seguinte, não encontrei mais o Bê na escola, soube que ele tinha ido pra uma escola particular, escola essa que eu jamais teria a chance de ir ou até ter contato, porque era longe da minha casa. Não tinha outro lugar onde eu poderia o encontrar. Mais alguns anos se passaram e eu soube que havia a hipótese até mesmo dele ter ido embora pra Fortaleza, achei que nunca mais fôssemos nos ver. Quando eu já estava quase terminando meu ensino fundamental, precisei mudar de escola, da municipal para a estadual. E quando chego lá, pro meu primeiro dia de aula, eu encontro o Bê.
Cidade pequena não falha, em algum momento as pessoas se reencontram. Naquele ano eu tinha uns 12 anos, não estava na minha melhor forma, muito menos preparada pra relembrar de tantas coisas do passado, mas uma coisa era certa: meu primeiro amor estava ali, de novo, ao meu alcance e nós não éramos mais crianças.
Depois disso, com certeza alguém imaginou que isso pudesse virar um romance estilo de Malhação, correto? Sim, eu imaginava. Mas não foi bem o que aconteceu. A realidade era bem mais difícil de lidar, eu era uma criança obesa e ele um dos meninos mais bonitos da escola. Eu comecei a usar colete pra coluna e aparelho nos dentes, e ele já tinha em vista uma candidata à primeira namorada e eu, nunca havia nem pensado em namorar. Minha adolescência foi um turbilhão de problemas na minha cabeça, a depressão entrou na minha vida de mansinho, mas no ensino médio eu e Bê nos tornamos colegas de sala e adivinha, falamos sobre nós! Ele chegou a dizer que quando conseguiu convite pro orkut, pensou em me procurar pra conversar (atenção... orkut) mas que imaginou a possibilidade de ser rejeitado. No final das contas, sim, acho que fomos o primeiro amor um do outro, mesmo que naquela época crianças não namorassem - e nem precisam namorar pra se amar. No fim do 3º ano do ensino médio, eu era pombo correio do Bê, ele namorava com uma garota da outra turma da nossa série, alguns meses adiante eles se casariam, iriam embora e (adianto logo) poucos anos depois, se divorciariam. Eu continue tratando das minhas mazelas, mas feliz por ter encerrado minha vida escolar ao lado do meu primeiro amor. Melhor que qualquer final de filme da sessão da tarde.

Obrigada por ser um bom episódio na minha vida, Bê 😊

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