A sensação de estar apaixonada
Esse texto poderia ter um significado muito bom pra mim, mas como os demais textos, acho que esse será apenas sobre lembranças das vezes que meu coração bateu mais forte. Para pessoas que ainda não sabem, eu tenho um transtorno mental que afeta qualquer relação interpessoal, envolvendo hipersensibilidade, emoções mais fortes que o normal, instabilidade e impulsividade. Essa informação é de muita importância para o assunto que vou tratar agora: PAIXÃO.
Costumamos ter na literatura nacional ou estrangeira, vários romances e contos que endeusam o momento em que a paixão arrebata um casal, mas também existem as almas grandiosas que um dia escreveram sobre o amor de forma melancólica, porque todo processo é doloroso, se não sozinho, acompanhado. Dizem que antes de amar, o ser humano se apaixona, e essa fase talvez seja uma das piores fases (pelo menos ao meu ver).
Para mim, Joice, se apaixonar traz não só uma sensação de frio na barriga ou no peito esquerdo. Traz dor. O borderline vivenciou mais esses acontecimentos do que eu mesma (e sim, o transtorno pode passar a frente da sua essência e infelizmente estragar momentos que deveriam ser bons), mas como uma power ranger lutando de forma conjunta com meus demais colegas, eu tava lá vendo tudo, de dentro do megazord: além da própria emoção que já é característica da paixão, eu já senti a sensação de poder ser abandonada a qualquer momento e logo em seguida, eu já procurava saber mais e mais da pessoa a qual eu estava apaixonada. Eu não queria ser deixada, queria ser escolhida, então tinha que fazer por onde. Esse é o grande erro e característica do borderline: ele se adapta à vida da(s) pessoa(s) para que não haja um abandono ou rejeição, fazendo com que a pessoa apague sua própria personalidade afim de evitar decepções e sensações de vazio.
Na maioria das vezes que me apaixonei, eu me apaixonei sozinha. Nunca me achei suficiente para um cara se sentir atraído por mim, principalmente porque em algum momento ele ia saber do meu transtorno e dizer aquela frase clichê de "eu vou estar sempre com você" e antes de completar 2/3 meses de relacionamento, ele diz que não consegue lidar comigo ou que eu tô sendo fresca com alguns pedidos de comunicação clara ou contínua, enfim, sempre alguém aparecendo pra iludir a pessoa sentimental aqui. Vida que segue...
Com o tempo, eu fui aprendendo nas terapias que a paixão acaba, que esse "ecstasy" da sensação de borboletas no estômago vai passando, e se você não tem um alicerce bem estruturado dentro da relação em que a paixão vai deixando de existir, capaz do relacionamento ir por água abaixo. Lembro do meu psicólogo na época me dizendo que vale muito mais a pena você começar um relacionamento amando, e que é possível.
Não sei você, mas quando eu penso em paixão, pelo menos com meus quase 32 anos, vejo isso como algo quase impossível de se sustentar em relacionamentos atuais, pelas novas gerações. Infelizmente aquele negócio de "amor líquido" ainda anda tomando de conta de muitas pessoas: é a falta de tempo, é a falta de uma nutrição para que o relacionamento dure e tenha boas memórias, é a conversa que deveria ser feita ao menos na hora de dormir, mas cada um tá em seu celular e até mesmo tendo contato com outras pessoas que nem se relacionam ainda, mas que já deixam em um "stand by". Isso é tão careta que me dá nojo.
A sensação que eu sentia quando estava apaixonada durante a adolescência, era caótica: eu simplesmente não conseguia controlar meus sentimentos, sempre a flor da pele, pensando incessantemente em como mostrar pr'aquela pessoa o quanto eu estava interessada e ao mesmo tempo tentando convencê-la de que valia a pena investir em um relacionamento comigo (tudo acabava em sofrimento). Hoje em dia, com diagnóstico e remédios em mãos, a sensação de estar apaixonada ainda se torna um semáforo amarelo ligado: agora posso ter mais discernimento quando existe esse sentimento e principalmente, quando ele pode ser benéfico ou prejudicial pra mim, podendo me poupar de problemas e traumas futuros. Terapia é vida!
Preferia mil vezes ter nascido nos anos 80, acredito que estar apaixonada nessa época seria uma grande vantagem pra mim: poderia escrever sobre o amor sem me achar negligente de tempo e canetas; poderia confeccionar cartas para as pessoas que não tem criatividade darem aos seus namorados ou namoradas; poderia imaginar eu mesma apaixonada e sendo correspondida, e pensar em como o presente que estou confeccionando para vender seria lindo para o meu namorado.
Em resumo, acho que apesar de eu não enxergar mais a paixão como algo benéfico ou que tenha duração para a vida toda, eu me sinto agraciada pela oportunidade de ter criatividade ao escrever sobre ela, que é uma fase na vida de uma relação amorosa, passa mas as pegadas feitas por ela ficam. E eu espero que sejam sempre boas marcas para o casal nunca esquecer daquele momento que pode ser o início do para sempre.
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